quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O poder da e na igreja

Martin Luther King Jr
"Houve um tempo em que a igreja era bastante poderosa – no tempo em que os primeiros cristãos regozijavam-se por ser considerados dignos de ter sofrido por aquilo em que acreditavam. Naqueles dias, a igreja não era apenas um termômetro que registrava as idéias e princípios da opinião pública; era um termostato que transformava os costumes da sociedade. Quando os primeiros cristãos entravam em uma cidade, as pessoas no poder ficavam transtornadas e imediatamente buscavam condenar os cristãos por serem “perturbadores da paz” e “forasteiros agitadores”. Mas os cristãos prosseguiam, com a convicção de que eram “uma colônia do céu”, que devia obediência a Deus e não ao homem. Pequenos em número, eram grandes em compromisso. Eles eram intoxicados demais por Deus para serem “astronomicamente intimidados”. Com seu esforço e exemplo, puseram um fim em maldades antigas como o infanticídio e duelos de gladiadores. As coisas são diferentes agora. Com tanta frequência a igreja contemporânea é uma voz fraca, ineficaz com um som incerto. Com tanta frequência é uma arquidefensora do status quo. Longe de se sentir transtornada pela presença da igreja, a estrutura do poder da comunidade normal é confortada pela sanção silenciosa – e com frequência sonora – da igreja das coisas tais como são.Mas o julgamento de Deus pesa sobre a igreja como nunca pesou. Se a igreja atual não recuperar o espírito de sacrifício da igreja primitiva, perderá sua autenticidade, será privada da lealdade de milhões e será descartada como um clube social irrelevante com nenhum significado..."

Igrejas evangelásticas

Sérgio Pavarini
No meio missionário, há anos que ouço o termo “números evangelásticos” para se referir aos exageros cometidos ao relatar o resultado de uma campanha evangelística. Tinha 100 pessoas, mas o relatório diz que tinha 250… 500 ou 1000! Convivendo com pastores, cansei de ouvir relatórios mentirosos de suas igrejas, exagerando o número de membros, freqüência de cultos, batismos, etc. Acabei de acessar o site de uma igreja, e um vídeo anunciando um evento tinha um narrador com uma voz “poderosa”, cheia de eco e efeitos, como se o recado viesse do além. Até mesmo um artigo sobre o relatório de estatísticas de acesso na internet denunciava como alguns marqueteiros mentem sobre o números de acesso/visitantes, divulgando, na verdade, o número de hits em seus sites (geralmente 10 vezes maior do que o número real de visitantes).
Recentemente estava ouvindo uma entrevista com Eugene Peterson e percebi que esse parece ser um fenômeno global. Ele falava sobre seu primeiro pastorado e sobre como os pastores mentiam em seus relatórios nas convenções. Há trinta anos George Verwer falava sobre a mentira do exagero, essa tendência de aumentar os números/estatísticas (ou simplesmente dizer que fez jejum, leu a Bíblia e orou, quando não fez nada disso), como um sinal de pseudodiscipulado. O que me parece é que a pressão para ser bem sucedido, relevante e atrativo pode se tornar uma armadilha, levando a tais exageros e mentiras. Ou fazer o que Bomfim apontou em sua postagem: usar um Photoshop para dar uma imagem cool na igreja/ministério, eliminando suas celulites.
Creio que o marketing mal utilizado (mentiroso) pode ser um reflexo desse Cristianismo APC. Mente-se para atrair, crescer, ser bem sucedido. Mente-se porque se propaga algo que não é verdadeiro, algo ilusório, superficial. A imagem é bonita, mas não há substância por trás da mesma. Atrai pessoas, vira notícia, causa toda a impressão de ser um sucesso. E como o sucesso vicia, então é preciso continuar mentindo para mantê-lo a qualquer custo. Com o passar do tempo, os resultados geralmente são catastróficos.
Que Deus nos ajude a nos livrar de toda e qualquer mentira sobre nós mesmos e nossas igrejas, a buscar a honestidade e realidade no modo como nos apresentamos aos outros (seja na internet ou de qualquer outro modo) e, acima de tudo, encontrar a liberdade para ser quem Deus nos chamou para ser, livres da necessidade de ficar nos comparando com esse ou aquele ministério ou igreja.